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Sete anos, uma ninfomaníaca, bolo de noz e maçã e uma mesa pequena demais

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  É verdade, já se passaram sete anos, desde que nos juntámos a primeira vez, no dia 26 de março de 2017. Iniciámos as nossas tertúlias com a polémica do livro "impróprio" para o primeiro ciclo, "O nosso reino", de Valter Hugo Mãe. Na altura houve uma grande controvérsia, movida por alguns encarregados de educação que se insurgiram com o conteúdo de duas ou três linhas dentro de uma obra proposta no Plano Nacional de Leitura. Um dos personagens dizia coisas que os seus filhos ainda não tinham ouvido, e seria muito complicado para aqueles pais explicar aos seus rebentos o vernáculo utilizado... se algum dia os filhos se dessem ao trabalho de ler o livro em causa, o que nós duvidamos, já que a maioria das crianças nem as obras obrigatórias da disciplina de Português lê... Polémicas à parte, o livro é muito bom e foi o ponto de partida para os nossos encontros mais ou menos mensais, onde falamos de muita coisa, bebemos um chá e por vezes, deliciamo-nos com um ou outro

A Luz e a Escuridão

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 Não há outra forma de conhecer a Luz, senão com Escuridão. São dois estados indissociáveis, como a tristeza e a alegria, a dor e o prazer. Estar sempre num, é esquecer o outro, que dá o sentido ao primeiro, e o engole. Saltar de um para o outro, sem viver nenhum durante um tempo, é nunca chegar a ter tempo de os experimentar, de os compreender, o que nos torna inexperientes. O segredo estará no equilíbrio, talvez, na forma como nos permitimos permanecer na escuridão, para percebermos a Luz, e vice-versa. No livro do mês, "Deus na Escuridão", este exercício é feito de forma poética, como o Valter Hugo Mãe tão bem escreve. Uma lição de Humanidade, de completa aceitação da escuridão que é uma vida e como ela pode ser tornada em luz, através do Amor. Fraternal, maternal, simples e genuíno, porque é manifestado por pessoas simples, genuínas, que nos aquecem o coração. A simplicidade com que todos nascemos, somos carregados no colo, e que se perde muitas vezes pelo caminho, princi

A Bíblia que todos temos numa prateleira

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  O livro deste mês é um daqueles achados que dificilmente nos chega às mãos, por ser de um autor pouco traduzido para o português, para nós quase desconhecido. Temos a sorte de, de vez em quando, sermos inspiradas pelo guru literário de uma das fundadoras deste grupo de leitura, que desencanta estas pérolas, sabe-se lá de onde. Não é uma obra extensa, ou maçuda, mas exige à partida algum trabalho de casa, para ser completamente compreendida. Ou isso, ou um grande conhecimento histórico político da Europa, porque só nos fará sentido a personagem se a conseguirmos contextualizar. O autor  Péter Nádas, apresenta-nos um rapaz, que nos parece a entrar na puberdade, húngaro, que vive nos anos 50 com a família: pai, mãe, avó e avô. Começa a história com um acontecimento brutal, que nos deixa ligeiramente apreensivas quanto à saúde mental do garoto, e continua com um desencadear de factos que nos são particularmente incómodos e estranhos. Gyurika é cruel, impulsivo, vingativo, medroso, curios

Nada é mais urgente que uma bexiga a rebentar

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A escolha do livro para leitura em Novembro, "Sete anos bons", foi intencionalmente feita pela atualidade dos acontecimentos no Médio Oriente, nomeadamente o conflito entre a Palestina e Israel. O autor israelita Etgar Keret, contemporâneo e nascido e criado em Israel, mostrou-nos um pouco da sua realidade enquanto judeu moderado, pai e marido, escritor de profissão, que utiliza os primeiros sete anos da vida do seu filho para nos contextualizar a sua vida, a visão que tem do seu mundo, que nos parece fechado numa redoma muito própria, uma realidade quase distópica para nós, que só vemos as guerras pela televisão e vivemos uma religião pagã, não perdemos muito tempo a pensar nas questões bíblicas profundas. Quando Etgar escreveu este livro não tinha ainda sido declarada guerra de Israel contra o Hamas, mas havia mísseis esporádicos que param o dia a dia da população em Telavive, que cancelam aulas, que obrigam todos a fechar-se como os ouriços enquanto o som de estrondo não p

O Alzheimer da Humanidade

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  O domingo é um dia agridoce, que dá com uma mão e tira com a outra. Deixa-nos sentar no sofá e fazer ronha, mas toca-nos no ombro quando estamos prestes a passar pelas brasas e sussurra-nos ao ouvido: "amanhã é segunda!" Se não tivermos cuidado, caímos num estado de ansiedade e nostalgias profundas, sem conseguirmos aproveitar a pausa semanal, só preocupados com o som do despertador do dia seguinte, que tocará sempre cedo demais e tirar-nos-á da cama, sem piedade. Mas quando ao domingo calha a nossa tertúlia, a tarde fica mais bonita e a promessa do início da semana torna-se mais leve. Pelo menos, é assim que me sinto, tomando a liberdade de falar por todas. Chegamos com os sacos carregados de livros, dispomos tudo na mesinha e antes de atacar o livro do mês com elogios ou lamentos, falamos do que andámos a ler paralelamente, do que encontrámos lá nas nossas prateleiras, do que nos sugeriram aqui e ali, certas de que o público em causa tem o mesmo interesse. E por falar em

Um Outono a impor-se

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  Ontem fomos "tertuliar" sob um Outono que parece querer impor-se ao Verão à força. Chuvadas batidas a vento que molham tudo e todos, a mostrar ao calor excessivo dos últimos tempos quem manda. Foi assim, a correr do carro para a Pousada da Juventude, que lá nos conseguimos juntar para falar sobre Milan Kundera e a sua "Valsa do Adeus". Todas adorámos o livro, e achamos que é impossível não se gostar de uma boa valsa, liderada por um homem que conhece os compassos e nos vai alimentando o ritmo, fazendo-nos rir com o seu humor tão peculiar, por vezes disparatado, outras vezes inteligente, mostrando-nos como um intelectual pode ser dançarino. Uma obra indiscutivelmente bem conseguida, e que revela o Kundera mais descontraído mas ao mesmo tempo enérgico, que se vai divertindo ao longo da escrita e que no final deixa escapar o seu lado mais impaciente e termina a dança repentinamente, com uma conclusão da trama mais apressada que o restante livro. Estaria ele farto de

A playlist da "gorda"

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 Ontem estivemos novamente reunidas na Pousada da Juventude da Lousã para mais uma hora e pouco de conversa fiada e sugestões de leitura, com a banda sonora da playlist sugerida no livro do mês, "A Gorda", da escritora portuguesa Isabela Figueiredo. Uma mistura de estilos e sonoridades que nos levaram desde Nina Simone a Xutos e Pontapés, sem que isso nos parecesse estranho ou descabido, uma linha condutora para as nossas divagações, ora sérias ora disparatadas. No livro sugerido para Julho houve um consenso quase generalizado, de obra fácil e descomprometida, mas que não surpreendeu a maioria que leu. A história ligeiramente autobiográfica de uma mulher que sendo gorda, faz uma operação para reduzir o estômago, emagrece 40 quilos, mas descobre que o ser-se gorda é para sempre, principalmente na sua cabeça. Perde bastante massa corporal, experiencia uma mudança drástica fisicamente, mas a cabeça fica lá, nas roupas largas e excessivamente grandes, nas frustrações e complexos