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O livro branco e a pausa cromática que talvez todos precisemos

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  Iniciámos as tertúlias de 2025 ontem, numa tarde de domingo meio chocha, mas que inesperadamente se tornou solarenga e quente. A preguiça que Janeiro nos trouxe, com toda a agitação de dezembro ainda a pesar no corpo, andou a adiar a nossa reunião, mas dos fracos não reza a história, e lá fomos visitar a sala de convívio da Pousada da Juventude da Lousã, carregadas de livros e muitas ideias para partilhar. A obra que tínhamos escolhido para ler, "O livro branco" da mais recente prémio Nobel da Literatura, Han Kang, não nos entusiasmou por aí além, mas a culpa foi repartida por nós, que o escolhemos por ser pequeno... Nem todas as obras de um escritor são dignas de aplausos, algumas são só banais, ou pouco significativas, e quem leu outros títulos da autora pôde defender a sua honra de premiada, pois um Nobel de Literatura premeia um trabalho contínuo e não livros em particular. Han Kang mostra-nos um lado muito pessoal e pouco apelativo neste "livro branco", uma f...

A aula de história e a parede

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 No passado sábado estivemos na apresentação do livro "A Lousã de Ontem, Retratos de Alma", da lousanense Filomena Martins, que decorreu no auditório da Biblioteca Municipal, com uma casa cheia de amigos, conhecidos, curiosos, atentos à ex-professora que nos deu uma lição de história popular lousanense, onde não faltou a música, com o grande Ramiro na voz e viola, boa disposição e no final, um lanche. Ficámos a conhecer um pouco mais de algumas personalidades da região, eventos marcantes de uma época que, pelas suas dificuldades, nos parece tão longínqua, mas ainda testemunhada por parte da plateia, cantámos e acompanhámos com palmas os poemas dedicados à Lousã e outras memórias musicais que se trautearam. Uma tarde que nos encheu o coração, lousanenses de nascimento ou "adotados". No final do evento, como conseguimos juntar o nosso grupo de leitura, falámos um pouco sobre a obra "a parede", de Marlen Haushofer, que foi consensualmente apreciada (por quem ...

A porta, o Museu e uma livraria café junto ao Lis

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 Viver sem telemóvel e o acesso ao mundo digital em tempo real é hoje em dia tão difícil que já inspira eventos temáticos para nos relembrarmos de como era a vida há 20 anos atrás. Não foi assim há tanto tempo que ainda usávamos o telefone fixo, para sermos honestos, a maioria de nós não cresceu com este aparelho no bolso, e só estamos viciados nele porque se tornou num conjunto de vários acessórios num só: telefone, relógio, correio eletrónico, agenda, etc. É prático, leve, pequeno e ainda possibilita distrair a cabeça a "rebentar bolhinhas coloridas" enquanto entramos em modo zen, alheados ao que nos rodeia. Superficialmente é só vantagens, mas talvez estejamos a cair nas teias do mundo demasiado facilitado e rápido. Podemos responder a um email importante enquanto esperamos no meio do trânsito, mas porquê levar o trabalho para aqueles momentos fora do horário estipulado e pago para o fazer? Não poupamos tempo, apenas o usamos de forma errada, pois se fizéssemos crochet ou ...

Um livro pequeno é sempre de desconfiar!

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Quando se começa a ler o "Caruncho" de Layla Martínez, um livro pequenino, que aparenta ser rápido, ficamos moídas com a escrita dela. Nenhuma frase é leve, ou simples, umas vezes o conteúdo é duro, e quando não é, a autora baralha-nos com a pontuação ou a falta dela, como se nos estivesse a enfeitiçar com um "amarranço" de nós e magia negra. Foi difícil, negro, mas valeu a pena, porque o nosso objetivo é expormos o nosso gosto pela leitura a livros que normalmente não compraríamos, ou se o fizéssemos por engano, não passaríamos da primeira página. O que Layla Martínez faz é extraordinariamente bem feito, porque nos transforma em pequenos insetos perdidos um pedaço de madeira, confusos com a direção, mas ávidos de carcomer e resistir, face a uma história horrível, com protagonistas detestáveis, sem finais felizes. Vilões emparedados, mortos em agonia, maldições, transes, ódio, cuspidelas de vingança, numa Espanha rural onde a vida de quatro mulheres de uma família p...

In Vino Veritas

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Ontem estivemos reunidas numa grande roda, com quase todo o grupo presente, o que é sempre muito divertido, pois toda a gente sabe que uma Tertúlia só se alcança, na verdadeira acepção da palavra, quando há muitas vozes e energias juntas. As mais faladoras ganham embalo para os seus discursos e opiniões, as mais caladas apreciam muitas opiniões diferentes e quem tem dom para o humor, diverte-se e diverte. Muita dessa energia foi gasta a analisar o ator Pedro Lamares, que esteve na Lousã há pouco tempo a dizer poemas, para regozijo de muitas e muitos. Quase todas fomos assistir ao seu espetáculo, que consiste numa cadeira e mesa altas, um microfone, uns livros e uma garrafa de vinho tinto, e claro, um ator que mistura Jorge de Sena, com Pessoa e muitos outros, e nos faz realmente conseguir apreciar alguns poemas que de outra forma, se fossem lidos por nós, não seriam a mesma coisa. Ele consegue de facto dar uma lição de Poesia, apenas porque lê, enquanto ator, em voz alta, e enerva-se, ...

Sete anos, uma ninfomaníaca, bolo de noz e maçã e uma mesa pequena demais

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  É verdade, já se passaram sete anos, desde que nos juntámos a primeira vez, no dia 26 de março de 2017. Iniciámos as nossas tertúlias com a polémica do livro "impróprio" para o primeiro ciclo, "O nosso reino", de Valter Hugo Mãe. Na altura houve uma grande controvérsia, movida por alguns encarregados de educação que se insurgiram com o conteúdo de duas ou três linhas dentro de uma obra proposta no Plano Nacional de Leitura. Um dos personagens dizia coisas que os seus filhos ainda não tinham ouvido, e seria muito complicado para aqueles pais explicar aos seus rebentos o vernáculo utilizado... se algum dia os filhos se dessem ao trabalho de ler o livro em causa, o que nós duvidamos, já que a maioria das crianças nem as obras obrigatórias da disciplina de Português lê... Polémicas à parte, o livro é muito bom e foi o ponto de partida para os nossos encontros mais ou menos mensais, onde falamos de muita coisa, bebemos um chá e por vezes, deliciamo-nos com um ou outro ...

A Luz e a Escuridão

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 Não há outra forma de conhecer a Luz, senão com Escuridão. São dois estados indissociáveis, como a tristeza e a alegria, a dor e o prazer. Estar sempre num, é esquecer o outro, que dá o sentido ao primeiro, e o engole. Saltar de um para o outro, sem viver nenhum durante um tempo, é nunca chegar a ter tempo de os experimentar, de os compreender, o que nos torna inexperientes. O segredo estará no equilíbrio, talvez, na forma como nos permitimos permanecer na escuridão, para percebermos a Luz, e vice-versa. No livro do mês, "Deus na Escuridão", este exercício é feito de forma poética, como o Valter Hugo Mãe tão bem escreve. Uma lição de Humanidade, de completa aceitação da escuridão que é uma vida e como ela pode ser tornada em luz, através do Amor. Fraternal, maternal, simples e genuíno, porque é manifestado por pessoas simples, genuínas, que nos aquecem o coração. A simplicidade com que todos nascemos, somos carregados no colo, e que se perde muitas vezes pelo caminho, princi...