Famílias de acolhimento de livros




 Ontem voltámos a reunir o grupo mais ou menos informal de leitoras assumidas, e que falta já nos fazia este momento de conversa, mesmo sem o chá que aquece os domingos de outono. Nem sempre as condições são ideais, e o clima começa a boicotar as saídas de casa ao fim-de-semana, mas a verdade é que tínhamos muitos livros cruzados, emprestados, perdidos, esquecidos, e antes que petrificassem em casa alheia, era essencial que o grupo se juntasse e colocasse alguma ordem na dinâmica pós férias e eleições autárquicas. O ser humano não foi feito para estar sem objetivos, ou projetos, e a procrastinação é a inimiga da sensação de realização, aliada da frustração e do desânimo. Na leitura então, esta regra é ainda mais correta e verdadeira, porque no meio das vidas agitadas e cheias de desafios, ler fica no fundo das prioridades, e quando nos apercebemos, passámos um serão a ver vídeos palermas, em estado de hipnose, com vários livros mesmo ali ao lado. O livro escolhido na última sessão quase não foi lido, apenas algumas participantes mais disciplinadas o fizeram, mas partilhámos o que fomos lendo, ou tentando ler, passando pela leve psicanálise dos porquês dessa preguiça. Percebemos que é comum a todas nós a procura insatisfeita do livro que nos prenda e faça largar o telemóvel, mas também sabemos que este grupo nos cura de parte dessa indisciplina, nos coloca novamente nos eixos e nos dá um sentido a essa desorientação literária. Por isso escolhemos sempre um título, e lemos todas o mesmo, porque somos das gerações que obedecem, e isso traz-nos algum conforto, para além de nos garantir o tal sentimento de realização. Assumidamente adeptas da disciplina à força, escolhemos um novo título, e marcámos uma data para a próxima tertúlia, dia 25 de janeiro, o que nos consolou de forma inexplicável! Tornámos a distribuir livros, "ainda não li esse", "leva este que vais adorar!", e deixámos metade da nossa melancolia literária na Pousada da Juventude. Agora quem se for sentar na sala de estar, que aguente com a sensação de incompetência que por lá ficou órfã!

Leitura para Janeiro: "A Montanha" do José Luís Peixoto



Comentários

Mensagens populares deste blogue

A aula de história e a parede

O livro branco e a pausa cromática que talvez todos precisemos

Forasteiros debaixo de holofotes