Tertúlia de Domingo

 


A leitura proposta para Abril foi uma daquelas obras que não dá para serem debatidas a um domingo. Profunda, poética, humana, obriga a uma leitura concentrada, numa combinação perfeita de simplicidade, sentimento e boa escrita. Poucos escritores o fazem, nem todos conseguem, ou gostam, mas José Luís Peixoto já provou ser especialista em deixar nos leitores a marca dos seus livros. Tanto haveria para dizer, sobre a forma como ele conseguiu mostrar-nos o Comendador Rui Nabeiro, com uma intimidade que nos baixa a guarda e nos faz sentir que vivemos em Campo Maior e sempre trabalhámos na Delta. Uma biografia em romance, contada pelo "próprio", tão bem imaginado que nos esquecemos que é o escritor, e não o verdadeiro Rui Nabeiro que escreveram. E como num almoço de domingo, uma tertúlia de domingo faz-nos divagar nos pensamentos, baralha-nos as conversas, como se o entusiasmo de juntar a "família" ao domingo nos tirasse a concentração necessária para discutir literatura. A dada altura alguém tem de chamar à razão os intervenientes, colocar novamente o espírito no tema, porque é tão fácil a mente divagar, como a que nos mostra José Luís Peixoto, descrita no livro, a mente de um homem, que em tudo vê passado, presente, equaciona o futuro, sente os cheiros, ouve os sons, recorda os medos, consola-se com as recordações de quem ama e quem o amou, uma mente cheia de anos de vida, de experiências, de família, amigos, lutas, de perdas e conquistas. Um homem que nos cativa, por ser igual a todos nós, mas que possui algo mais, algo que faz a diferença. Com a 4ª classe, bem feita, como gosta de afirmar, tornou-se num homem rico, mas não um rico qualquer. Um rico com alma de filho de gente trabalhadora e humilde, sempre com tempo para ouvir quem o procurava a pedir ajuda, sempre com o coração aberto para Campo Maior. Foi um prazer conhecê-lo, uma honra que nos tivesse recebido na sua forma mais íntima, o seu pensamento. 

Para Maio, fica a sugestão de leitura:



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