O Castelo onde mora cada um de nós
Este domingo encerrámos o mês de abril com mais uma tertúlia na Pousada da Juventude da Lousã e um livro dedicado à fantasia de um dos locais turísticos mais misteriosos da nossa vila, o Castelo da Lousã. Visitado por muitos curiosos, é um postal da nossa terra, que nos transporta para grandes exercícios de imaginação, quando o observamos. O local onde foi erguido não se assemelha a nenhum outro dos estratégicos pontos onde normalmente construíam castelos, que serviam de defesa de um território, e de onde se podia ver com distância os possíveis inimigos de outros tempos de conquistas e reconquistas. O Castelo da Lousã não se distingue do centro da vila, temos que entrar pelos caminhos circulares da serra para o encontrar, e obriga-nos a deduzir que quando foi pensado, teria sido para ficar secreto a quem passasse pela região. Esta particularidade é a sua característica mais importante, o ser escondido. Ninguém esconde uma torre para prevenir ataques, nem para se preparar para uma defesa, mas então, para que é que foi erguido? Esta dúvida tanto popular como académica fez nascer a Lenda da Princesa Peralta, outra personagem que não podemos comprovar ou entender, e assim apareceu a sua história, que por ser fantasiosa, ainda desperta mais curiosidade. No livro "Amor e um Castelo de Xisto", a autora libertou-se da maior parte das conhecidas teorias sobre o aparecimento do castelo e dos seus supostos utilizadores e criou um passado que nos mostra pessoas que poderiam de facto ter existido, com as suas próprias histórias de vida e personalidades, como qualquer um de nós. Desta feita, todas leram a obra, não houve preguiça nem desculpas, o que costuma ser raro!, talvez porque tenha sido um livro escrito por uma de nós, ou porque o tema nos agrade especialmente, o certo é que foi unânime e todas gostaram. O resto da tertúlia foi passado a ouvir as opiniões sobre as leituras adicionais que fomos fazendo, um dos momentos mais interessantes das nossas conversas, pois vamos conhecendo um pouco mais de cada uma ao ouvir o que gostam de ler. Tal como um pequeno castelo embrenhado em densas estradinhas e árvores, todos nós temos a nossa torre principal escondida, os nossos segredos guardados, que não se veem no dia-a-dia, não são mostrados a quem nos observa artificialmente. É preciso tempo e alguma caminhada para que os outros lá cheguem e nos vejam. Nas nossas conversas em roda dos livros já encontrámos muitas clareiras de onde podemos vislumbrar algumas dessas torres, onde vão nascendo pequenas flores e amizade.
Para a próxima tertúlia, escolhemos algo diferente, que certamente nos dará muito tema para conversas difíceis: "Se isto é um homem", do Primo Levi.
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