A Casmurrice de Assis
Ontem juntámo-nos para mais uma Tertúlia, numa noite que mais parecia inverno. Frio, nevoeiro, escuridão, silêncio pela Lousã, e nós na sala do bar da Pousada da Juventude. Custou-nos sair de casa, muitas já estavam de pijama, mas a casmurrice venceu a preguiça, felizmente! O livro que nos propusemos a ler foi "Dom Casmurro" de Machado de Assis, e todas concordamos que a escolha foi acertada. Normalmente não enveredamos por estas leituras clássicas brasileiras, e gostámos de o fazer. Um livro pequenino, de fácil leitura, mas surpreendente no tema e na estrutura. Há muita gente que compara Assis a Eça, com as devidas diferenças: por serem de épocas semelhantes, por serem ousados na escrita, por nos mostrarem que os homens também pensam e romanceiam as dinâmicas do amor entre o homem e a mulher. Até no nome pequeno e simples nos fazem comparar um e outro, mas as parecenças ficam por aí. Assis foi pioneiro no Brasil, Eça em Portugal, mas continuamos a gostar mais do "nosso", por simpatia nacional ou não, é um facto. Talvez se tivéssemos um cházinho quente a acompanhar as bolachas trazidas na carteira, conseguíssemos ser mais benevolentes com o brasileiro, mas a Pousada estava literalmente em pausa, como o tempo lá fora, e ficámos por aí com o Assis, só por casmurrice. Levámos livros que lemos e gostámos, emprestámos uns e outros, num verdadeiro tráfico de letras, e uma vez mais, percebemos que nisto da literatura, nunca deixamos de nos surpreender com a quantidade de autores que desconhecemos. Há muita gente a escrever, há sempre novidades, e atrevemo-nos a dizer que não há desculpas para não se ser viciado em ler. Podemos não ter encontrado ainda aquele escritor ou escritora que nos apaixona, mas ele ou ela existem! Podemos no início de um livro achar que a obra não nos diz nada, mas a experiência mostra-nos que invariavelmente, nem sempre devemos desistir dele. Por vezes somos surpreendidos e quando viramos a última página, ficamos gratos por sermos casmurros.
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