Robertos, livros perdidos e sangria azul

 





As férias de Verão são sempre uma prova de fogo para os grupos informais. O nosso resiste, mesmo depois de grandes períodos de ociosidade e descanso. Ninguém que gosta de ler abandona o hábito, e geralmente, usam as férias para pegar naquele livro da mesa de cabeceira que teima em não desenvolver. O mais complicado de conciliar são as nossas agendas. Entre enfermeira a trabalhar por turnos, mães de garotada pequena, professoras, Presidente de Junta, psicóloga, para encontrar uma data é sempre uma negociação demorada. Quase tão complicado como encontrar um livro que seja consensual. O que tínhamos proposto, "a doença da felicidade" de Paulo José Miranda, ficou aquém dessa harmonia. Houve quem gostasse, quem odiasse, quem tivesse ficado com um nó na cabeça e desistido. No fundo o livro é muito bom, no sentido em que é um exercício de pensamento que nem toda a gente conseguiria escrever, mas... como qualquer texto que teorize qualquer coisa, ainda por cima, neste caso, que brinca com uma ideia de uma doença de um sentimento que nos é agradável, a Felicidade, podem imaginar as trocas e baldrocas que o autor faz nos nossos conceitos, deixando-nos exaustos com tanto neurónio a trabalhar. Mesmo assim, e exatamente por isso, é bom. Como percebemos que o livro proposto estava a abalar as nossas crenças ingénuas de que a leitura é um bom passatempo, propusemos outro livro para acalmar a revolta! Não serei a pessoa indicada para falar sobre ele, já que sou a autora, e não o li recentemente. Escrevi-o, durante alguns meses, li, reli, risquei, escrevi, e recordo-me vagamente de que me ri muito com certas passagens, sonhei, e vivi tudo aquilo mentalmente. Mas já foi há algum tempo. Garantidamente gostei, não ao ponto de fazer marcadores de livro personalizados como uma colega do grupo, que nos presenteou com bonitos exemplares, o que achei enternecedor e muito carinhoso, mas sendo uma história que de vez em quando leva as personagens a ceder à luxúria, nem todas as pessoas aceitam que gostaram. :) Mais que esses momentos humanos e inevitáveis, o que realmente adoro no "1969" é o ambiente português que se vive, o nosso sentido de humor, os nossos defeitos, a nossa essência. Aquela familiaridade e conforto que sentimos quando nos sentamos num semicírculo e vemos um teatro de "Robertos". Uma paulada na cabeça que põe as crianças e os adultos a rir sem esforço. Isso e uma sangria, mesmo que feita com vinho rosé azul!

Se tiverem interesse, o "1969" não se encontra nas livrarias, apenas aqui:
https://publish.chiadobooks.pt/books/266419

O próximo livro que propomos é "O Jogo do Anjo", de Carlos Ruiz Zafón

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Um livro pequeno é sempre de desconfiar!

A aula de história e a parede

In Vino Veritas