Eça de Queirós, o dia dos Namorados e Zoom
No passado dia 14 de fevereiro reunimos novamente em zoom, para falar sobre a obra de janeiro, "A Relíquia", de Eça de Queirós. De vez em quando gostamos de voltar aos clássicos, faz-nos falta regressar à realidade das golas engomadas e rosários fervorosos, viver um bocadinho no tempo em que a comunicação só se fazia presencialmente, e à luz do dia, que as velas dão sono. Se queríamos contactar com alguém, mandávamos um bilhete com antecedência a combinar, dia, hora e esperávamos a resposta. Com sorte, e se nenhum contratempo surgisse, lá se reuniam as pessoas e "tertuliava-se". Devia ser bastante emocionante ter um convívio ou um jantar, um motivo qualquer para ver pessoas, principalmente para as mulheres, que de uma maneira geral, estavam mais recolhidas dentro de casa e não tinham empregos fora de portas. Mas essa emoção das relações não era exclusiva às mulheres, os homens, mais livres e privilegiados, também gozavam, e bem, sempre que podiam. Prova disso são os romances do autor do mês, onde a sociedade portuguesa do século XIX é tão bem retratada e caricaturada. Festas, fanfarrões, mulheres belas que inspiravam paixões arrebatadoras, tudo parecia mais intenso que hoje em dia, até o sofrimento. Se a pessoa fosse religiosa, era-o ao ponto de rezar de joelhos na pedra fria durante horas, em casa, dentro de um nicho escuro, alumiado por uma vela. Se por outro lado gostasse de prazeres carnais, não teria limites para os satisfazer, enganando tudo e todos da forma mais indecente. Nesses extremos, o Eça de Queirós era mestre. Sempre com um estilo próprio, por vezes demasiado descritivo, mas que vale sempre a pena enfrentar na leitura. A Relíquia que dá o título a esta obra é tudo o de mais improvável, como sempre nas histórias dele, e até lá chegarmos, rimo-nos muito. Há poucos escritores tão consensuais entre nós, e Eça é sempre bem-vindo nas nossas leituras. Toda a gente tem a obra completa em casa, não há dificuldade em arranjar o "livro do mês", para além de sabermos de antemão que será divertido. A nossa felicidade vê-se na foto da reunião, e não era por ser dia dos namorados. Faz-nos mais falta o dia dos amigos, de quem estamos atualmente afastados, e quando nos vemos vivemos o momento como o Eça, intensamente!
Para a próxima tertúlia iremos falar da obra "A vida em surdina", de David Lodge.
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