25ª Tertúlia, "As mulheres que correram atrás de um café aberto na Lousã!"
No passado dia 26 de janeiro reunimos pela 25ª vez! Quase que fazíamos uma capicua, que é sempre engraçado, mas em vez de brincarmos com a numeralogia, andámos à procura de um local onde pudéssemos beber um chá e conversar sobre a obra do João Tordo. Foi difícil, mas à terceira lá descobrimos um estabelecimento na Lousã aberto ao domingo à noite. Com meia hora de atraso, conseguimos finalmente uma mesa e uma bebida quente, numa versão anos 90, com fumadores à mistura, bem à imagem do livro que andámos a ler. Um ambiente urbano-depressivo, escuro, com cheiros desagradáveis e confusão de sons. Não é propriamente o que esperamos de um livro para nos distrair, ou de um local para reunir uma tertúlia literária, mas tal como na leitura, lá nos aguentamos. O autor escreveu um livro a falar na primeira pessoa como se fosse mulher, contando histórias também elas na primeira pessoa, de outras mulheres, mas que no fundo eram uma só realidade de uma mulher. É confuso? Sim, e custa a entranhar, porque é cru, feio, urbano, cinzento, asfixiante a dada altura, e sem qualquer promessa de esperança. Umas adoraram a confusão, outras ficaram apenas deprimidas. Será que um livro é isso mesmo? Como diz "Beatriz", a essência da obra é não ser de tema nenhum, a não ser sobre ele próprio? Para o João Tordo, escrever é isso, é brincar com a história, que não chega a ser sobre nada, e no fundo é sobre tudo. Ele carrega nas teclas do computador, com aquele sorriso gozão que descobrimos no final, quando viramos a última página e olhamos a lombada. Não conseguimos ficar muito tempo chateadas com a frustração e desalento que vivemos naquela obra, porque ele coloca no livro uma foto sua a sorrir, com uma mão a esconder ligeiramente o deleite que deve sentir, ao imaginar que consegue enganar e confundir os leitores até ao fim, e só nas últimas páginas desvenda o nada que escreveu. Como uma criança traquina, a quem não conseguimos castigar, porque é genuinamente franca, mesmo na aldrabice.
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