Nozes, filhozes e outras "gnoses"
Fechámos as tertúlias de 2019 com a obra "Sensibilidade e bom senso", de Jane Austen, que não reuniu consensos entre as leitoras presentes. A época vitoriana inglesa é muito característica, com os seus formalismos e etiquetas sociais, e todos conhecemos um pouco do mundo da autora, quer seja nos vários livros que escreveu, quer seja nas adaptações para cinema famosas, como é o caso da obra do mês. Hugh Grant, Ema Thompson, Alan Rickman, Kate Winslet e muitos outros atores, dão vida às personagens do nosso livro, onde a vida era regida e orientada pelos rendimentos anuais contados em libras, e condutas pré-definidas pela cultura inglesa da época. Não ficamos especialmente apaixonados pelo romantismo quase inexistente entre os possíveis e futuros casais, podemos até afirmar, que nos desapontamos com a frieza e calculismo com que a autora retrata a maioria das pessoas que imagina. Mulheres que casam porque sim, para não ficarem pobres ou sozinhas, que escolhem os pretendentes pela quantia de libras, que almejam como principal objectivo de vida casar, e de preferência com alguém que lhes garanta cozinheira, empregados, mordomo, e todo um séquito de trabalhadores. A paixão é quase uma fraqueza, e combatida com grande empenho, as emoções são reprimidas e os achaques só acontecem nos limites de uma situação de stress e longe de público, mas nada que um chazinho não cure ou alivie. No fundo, aquela sociedade em que Jane Austen viveu era igual a tantas outras, algumas que ainda povoam algumas zonas do planeta, e se pensarmos bem no assunto, talvez ainda há pouco tempo em Portugal acontecesse o mesmo no universo feminino, sempre em desvantagem económica e sujeito a sacrifícios, por um futuro sossegado, confortável, com um bocado de sorte, com cozinheira e empregados. Aprendiam a gostar dos maridos, ou acabavam por se resignar a odiar os parceiros, talvez. A verdade é que os ditos romances de Jane Austen têm muito pouco romantismo, e deixam-nos a pensar nisso. Seremos nós, as mulheres de hoje em dia, que trabalham e também possuem dinheiro, demasiado exigentes quando falamos de relações amorosas e projetos de vida? Andaremos todas iludidas a pensar que é possível ser feliz e ter cozinheira na mesma? ;) Valeu-nos as nozes e as filhozes que nos acompanharam na tertúlia, e nos aliviaram o desconsolo da leitura.
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