17ª Tertúlia, Rosa Lobato de Faria, uma Senhora
Escritora, letrista, atriz, mulher, mãe, avó, são tantas as definições que se podem dar a esta autora que nem sabemos bem o que explorar. Quem já leu algum livro dela sabe que não é uma mulher simples e resignada. Percebe-se que estamos perante uma pessoa que já viveu muito, de uma cultura fina, que certamente teve uma educação aprimorada e própria de uma senhora com S grande. Nascida num tempo em que as raparigas eram mais feitas para serem esposas que pensadoras, esperou até perto dos 60 anos para editar o seu primeiro livro. E em boa hora o fez, porque o imaginário feminino é rico e cheio de emoções, que vão desde as questões humanas de sobrevivência da espécie, à trama amorosa de dois amantes. Não nos ficamos nos clichés, quando lemos as obras dela, e este livro em particular, "A Trança de Inês", é a prova disso. Pegando na história de amor de Pedro e Inês que todos conhecemos dos livros de história e das lendas da Quinta das Lágrimas em Coimbra, um amor que inspirou até Shakespeare, dizem algumas teorias, e que deu origem a "Romeu e Julieta", Rosa Lobato de Faria inventa três épocas para o seu casal viver o seu intenso drama afetivo. Com um humor próprio de uma mulher experiente e inteligente, um conhecimento "duvidoso" do ambiente de um hospício, uma obsessão pela Inês, a mulher paixão, que arrasa uma alma masculina, tudo isso com aquele sorriso brincalhão da autora, resultam num livro que inspirou até um filme. Nunca uma história de amor poderia ser igual a todas as outras, se é contada por alguém que já viveu três amores (ou desamores), várias épocas diferentes de Portugal, observou durante 60 anos as intrincadas relações humanas. Uma mulher madura sabe o que é o amor, domina já essa disciplina da vida e mostra na sua escrita, quando a há, aquilo que muitas vezes calou, ou simplesmente ninguém ouvia. Sexo, loucura, desespero, êxtase, saudade, tristeza, vingança, crueldade, patologias várias que todos vivemos e a que todos de uma maneira ou de outra sobrevivemos. E quando fechamos um livro destes pensamos, se uma Senhora pode, porque não podem todas as mulheres? É libertador saber que a Rosa Lobato de Faria viveu tudo isto, mesmo que só no seu imaginário, e melhor que tudo, teve a coragem de nos mostrar.
Ass: Filipa
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